Minhas regras de casa para Old Dragon 2 — Parte 2: Electric Boogaloo

Vitoria Faria
5 min readDec 26, 2024

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Bonus points pra quem reconhecer que sala é essa, entre as aventuras que eu recomendei no final desse texto

Eu acho muito louco o fato de que o artigo mais popular da história desse meu Medium, que segue ganhando vários acessos todo mês, é o que eu falo sobre algumas regras de casa minhas pra OD2. Vi até uma galerinha compartilhando no reddit do negócio um tempo atrás, huh, quem diria.

Por um lado, fico lisonjeada, por outro, eu fiz esse Medium justamente pois achava que ninguém ia ler fora uns amigos próximos meus, mas já que tem gente cometendo o grave erro de me levar a sério, vamos insistir um pouco no assunto.

Escrevi aquele artigo a muito tempo, e muita coisa nele não me representa mais, acho que isso não é necessariamente um problema. É a natureza de regras de casa se transformarem com o tempo, variando por grupo, situação e, às vezes, só pela vibe mesmo.

Tendo isso em vista, vamos dar uma atualizada sobre o que se passa na minhas mesas mais recentes.

O que se foi

No texto anterior, eu comentei sobre a tentativa de converter (quase) tudo pra testes de d20 roll over, o que funciona, mas com o tempo fui esbarrando com gente mais aberta a usar testes roll under e tipos de dado esquisitos e inesperados, assim fui abandonando isso com o tempo. Tem um valor real em se abraçar o design irregular e desacoplado de D&D velho. Elaborar sobre isso é um papo pra outro dia.

Ironicamente, planejo fazer o contrário, mais cedo ou mais tarde, e converter os testes de ataque pra roll under blackjack tipo o Whitehack, só pra ver se parece agradável pra galera, mas eu não testei isso ainda de fato, então sem maiores comentários por enquanto.

O que ficou

Eu sigo insistindo em usar os cinco saves clássicos, com os nomes um pouco melhorzinhos de Dolmenwood. Um dia planejo fazer um artigo elaborando sobre isso com mais detalhes, mas a única explicação honesta que eu posso dar é "eu acho eles fofos".

Também sigo permitindo que usuários de magi… err… magos, façam um reskin de uma funda em um item que solta um dano de d4 elemental, só pra dar uma cor mais mágica pra qualquer turno em que eles não gastem um espaço de magia de verdade. Minha noiva usa uma espada curta que solta poderzinho, que ela carinhosamente chama de "spell blade" por causa de WoW. Como expliquei no texto anterior, colocar essa funcionalidade em um item garante que a personagem ainda possa ser desarmada, assim não traz os mesmos problemas que truques de dano às vezes podem causar.

O que há de novo

Array Padrão

Para criação de personagens, hoje em dia, se ninguém na mesa se opor, insisto em só usar um "array padrão" pra definir os atributos, geralmente algo próximo da média de 4d6 drop lowest, como [16 14 13 12 10 9]. Às vezes eu mudo ele um pouco, permito uma ou duas variações diferentes, mas o espírito do array segue o mesmo.

Tem jogos que tem esquemas de criação de persongens aleatórios interessantes e que sempre resultam em personagens minimamente competentes, tipo Beyond the Wall, um dia planejo converter o mesmo esquema pra OD2, mas enquanto isso não acontecer, um bom e velho array resolve.

Por que eu faço isso? Bem, muita gente do OSR adora encher o peito pra falar sobre como é interessante e instigante usar personagens com distribuições de atributos não-ótimas, o que é um papo muito fofo e eu tenho certeza que ressoa com muita gente, mas eu já tive amiga que conseguiu rolar quatro 1s rolando 4d6 drop lowest pra Sabedoria, ficou com aquele -3 safado nos saves contra magias mentais e teve uma experiência absolutamente miserável na mesa (eu já mencionei que eu gosto muito de usar súcubos?). E sim, eu falei pra ela que ela podia rerrolar, mas vocês sabem como é, tem gente que gosta de seguir as coisa ao pé da letra como apresentado.

Mais uma vez, eu sei que tem gente que insiste que isso é o puro suco da experiência OSR ideal, mas eu particularmente me sinto velha demais pra essa merda.

Classes diferentes

Outra coisa que eu venho permitindo mais é simplesmente usar classes de outros sistemas com adaptações mínimas. Em geral, só trocar a progressão de base de ataque pela de OD2 já resolve.

Ao invés de insistir em usar o Druida de OD2, permito que meus amigos usem o Druida de OSE: Advanced, por exemplo, que tem sua lista de magia própria que sinceramente é bem mais característica e divertida.

Foi muito divertido ver o druida de OSE de um amigo meu convivendo com a necromante de OD2 da minha noiva domingo passado.

O que diabos eu ando fazendo?

Uma coisa que eu acho importante mencionar, quando se trata de regras de casa, mas falhei completamente em tocar no assunto no último texto, é o que exatamente eu ando narrando, pois esse contexto sempre colore e explica um pouco de onde vem essas decisões.

Quem acompanha esse Medium (alguém acompanha esse Medium?) já sabe mais ou menos do que eu vou falar, mas vamos lá mesmo assim. Isso, é claro, não é uma lista completa, pois eu sinceramente não me lembro de tudo, e tem vezes que eu só tiro uma dungeon das "vozes da minha cabeça" e mando nos meus amigos mesmo, mas ainda vale um highlight dos últimos tempos:

The Blackapple Brugh

Mencionado no meu último artigo, provavelmente a melhor coisa que já saiu da comunidade do Basic Fantasy. Se você não leu, abra a página e baixe imediatamente, não tem uma boa razão pra não ler essa aventura, fora talvez não conseguir ler em inglês.

The Incandescent Grottoes

Eu não curto tudo que sai do Gavin Norman, mas essa pequena dungeon de dois andares é um mimo pra quem quiser uma vibe meio Hora da Aventura misturada com Dungeon Meshi. Não é de graça, mas vale seu preço premium do Exalted Funeral, é realmente muito bem feita.

Beyond the Borderlands

Um brasileiro, que eu faço muita questão de não saber muito sobre pra não desenvolver relações parassociais desnecessárias (mulheres aprendem com seus erros) conseguiu o feito notável de fazer uma versão menos racista e monótona de The Keep on the Borderlands, comecei a narrar isso literalmente domingo passado e estou adorando a estética meio zelda/meio JRPG do negócio, tem poucas coisas que me fazem mais feliz que uma boa zine coloridinha.

Acho que é isso, ainda gosto dessa desgraça de jogo apesar de todos os desgradáveis flertes dos autores com slop de AI. Pelo menos o Creative Commons garante que eu possa fazer todo um fork do jogo meu, com ilustrações desenhadas com nada além do meu literal sangue, se eles continuarem com essa palhaçada. Ainda defendo que é o melhor jogo OSR mais "baunilha", mesmo comparando com os gringos grandes.

E que todos tenhamos mais momentos divertidos em masmorras e ermos nesse ano novo.

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Written by Vitoria Faria

(ela/dela) - Súcubo dorky que gosta um pouco demais de jogos de mesa - Faz outras coisas na vida, mas raramente fala sobre - Travesti, sáfica e poliam

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