Entre Fantasmas e Aliens — Year Zero Engine Mod para Spooktacular

Vitoria Faria
4 min readMay 25, 2023

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Uma mulher adulta e uma criança em trajes de caça-fantasmas
Uma mãe solteira fazendo seus pulos é meu ideal de caça-fantasma. Arte oficial de Spooktacular

Eu sempre tive uma fascinação particular pelo conceito dos caça-fantasmas. Reconheço que o filme original é um tanto ideologicamente desagradável, com alguns tons do reaganismo da época em sua trama, mas acredito que em outras mídias, especialmente nos desenhos, esse tom é subvertido até certo ponto.

A ideia de pessoas comuns e mundanas, armadas de equipamento DIY segurado na base de silvertape e rodando na base de WD-40, peitando todo tipo de criatura paranormal, incluindo lendas e deuses, e saindo vitoriosas com muita ginga e bom humor, de certa forma, é uma subversão genial aos tropos comuns de fantasia urbana, em que geralmente tudo é super sério, misterioso, oculto por “máscaras”, e na real, sejamos sinceras, baseado demais em teorias da conspiração anti-semitas.

Pensando nisso, eu procuro muitos anos um RPG que reproduzisse o sentimento dos desenhos antigos dos caça-fantasmas, até que existem muitas opções por aí, mas quase todos tem algum aspecto que me incomoda por um motivo ou outro.

Um exemplo óbvio é o antigo RPG oficial dos anos 80 da West End Games, que não é difícil achar como um scan não oficial pela internet. Sendo antigo como é, pode ser um tanto ultrapassado e laborioso de ler, assim fui pesquisar se existia algum retroclone mais modernizado e me deparei com Spooktacular.

Spooktacular é realmente um texto muito mais leve e gostoso de ler, fiquei muito animada com a pegada leve e de bom humor mas sem largar as implicações, digamos assim, curiosas de pessoas comuns tendo que trampar como caçadoras de criaturas paranormais para sobreviver.

Meu único problema com o sistema, é a velha maneira que os sistemas d6 da WEG resolvem testes, rolando pools de d6, somando o resultado dos dados e comparando com um número alvo. Esse paradigma de resolução é conhecido por ser um tanto frustrante, pois, com poucos dados na pool, alguns testes são quase impossíveis de acertar, e com muitos dados, quase impossíveis de falhar.

Caso vocês achem que eu estou falando baboseira, eu demonstrei isso matematicamente no AnyDice. Gerando gráficos de probabilidade de sucesso, observamos as seguintes estatísticas para um pool de 1 a 10 dados na Year Zero Engine, e na da WEG para número alvo 15 e 20:

Pool de 1 a 10 dados na YZE
Pool de 3 a 10 dados na WEG para número alvo 15, observe que com menos de 3 dados o sucesso é impossível
Pool de 4 a 10 dados na WEG para número alvo 20, observe que com menos de 4 dados o sucesso é impossível

Como vocês podem ver, os gráficos da WEG são quase exponenciais, sobem e descem muito rápido e apenas são “justos” para um conjunto pequeno de pools de dado para cada número alvo. O sistema da YZE, ao contrário, sobe mais devagar, de maneira mais intencional.

Acho que a esse ponto vocês devem já devem ter pensado na minha solução para essa questão, usar o sistema de resolução de sucesso da YZE, em que um 6 em um dado marca um sucesso, ao invés do da WEG em Spooktacular. Para que isso seja possível, recomendo as seguinte adaptações:

Mudar de 12 para 14, o número de pontos para comprar o valor dos atributos (observe como ambos sistemas usam quatro atributos e já começam com pools de dados de tamanho parecido).

O “Spookie Die” ainda faz parte da pool mas tem seu resultado “Spookie” em um 1 ao invés de um 6.

Você consegue um “Sucesso Excepcional” rolando um sucesso extra além do necessário em um teste, e um “Sucesso Ridículo” rolando pelo menos dois sucessos extras.

Imagino que talvez outras modificações sutis sejam necessárias para fazer o sistema rodar liso com a nova resolução de sucessos, mas talvez precise testar essa ideia na vida real para sentir a necessidade nos detalhes.

Tendo isso em vista, estou animada para colocar essa ideia em prática e descobrir uma nova forma de criar aventuras aterrorizantes e coloridas com os meus amigos.

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Written by Vitoria Faria

(ela/dela) - Súcubo dorky que gosta um pouco demais de jogos de mesa - Faz outras coisas na vida, mas raramente fala sobre - Travesti, sáfica e poliam

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